segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Cadeia produtiva do mel apresenta desafios e debate potencialidades do setor


A Assembleia Legislativa sediou, nesta segunda-feira (26), a última audiência pública da Comissão Especial da Apicultura e Meliponicultura, colegiado presidido pelo deputado Sergio Peres (Republicanos). Participaram representantes do Poder Executivo Estadual do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, instituições de ensino e pesquisa, autoridades municipais, entidades associativas de produtores rurais, órgãos de assistência técnica, apicultores e meliponicultores (criadores de abelhas-sem-ferrão). 

Desde que foi instalado, em outubro do ano passado, o colegiado pluripartidário percorreu municípios ouvindo produtores e conhecendo iniciativas em propriedades rurais, escolas, universidades, empresas e associações.  “Não chegamos ao final dos trabalhos, pelo contrário; a Comissão Especial é um ponto de partida para a construção coletiva de políticas voltadas a essa cadeia produtiva tão importante para a renda das famílias, para a saúde das pessoas e para a preservação da vida no planeta”, projetou Peres, ao abrir a audiência pública no plenarinho da Assembleia Legislativa.

 

Poliniza Santa Catarina

 

Na abertura do debate, o chefe da Divisão de estudos apícolas da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), Rodrigo Durieux da Cunha, apresentou o Plano de Desenvolvimento da Apicultura e Meliponicultura Catarinense (PDAMC). Cunha, que está à frente da Câmara Setorial que trata do tema no Estado vizinho, detalhou as principais iniciativas do governo catarinense, com destaque ao Programa Kit Apicultura, ao Abelhas Rainhas e também ao Programa Poliniza Santa Catarina, todos voltados ao fortalecimento e desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva. “Criamos grupos de trabalho para tratar de necessidades específicas e todos os elos da cadeia produtiva, entre produtores, órgãos e instituições – que têm nesse plano a base para implementar suas ações”, relatou. No caso do Poliniza Santa Catarina, são beneficiários do programa os agricultores familiares, fruticultores, olericultores e produtores de grãos, enquadráveis no Pronaf, que estejam interessados em melhorar seu sistema de produção. Os apicultores são contemplados com até R$ 10 mil para aluguel de colmeias; até R$ 150 por colmeia, com prazo de pagamento em cinco anos sem juros.

 

Pleitos do setor

 

O superintendente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) no Rio Grande do Sul, José Cléber Dias de Souza, anunciou que os pleitos apresentados receberão atenção na formulação de políticas para o setor. “Entendemos como necessário aproximar as agendas das instituições com os produtores, havendo, por parte do MAPA, o compromisso que historicamente tem marcado as ações institucionais, com o empenho para que essa contribuição seja cada vez mais efetiva”, assegurou.

 

Foram apresentados os projetos de lei protocolados na Assembleia Legislativa a partir de sugestões trazidas pelos produtores desde a instalação da Comissão. Os participantes chamaram a atenção para a necessidade de profissionalizar o setor, reforçar a parceria entre produtores e instituições de pesquisa; de facilitar o cadastramento das propriedades; de implementação de programas de fomento aos produtores; incentivo à fabricação de subprodutos do mel para agregar valor, políticas de educação ambiental; medidas de amparo aos produtores para períodos de adversidades e, de modo especial, alternativas para combater episódios de mortandade de abelhas.

 

O presidente da Federação Apícola e de Meliponicultura do Rio Grande do Sul (FARGS), Davi Vicenço, lembrou que a apicultura é uma atividade dentro do agronegócio brasileiro de promoção da agricultura.  “A apicultura não tem terra própria, de modo que 90% das colmeias estão dentro de áreas de produção agrícola, aumentando a produtividade das plantações por meio da polinização”, observou. Vicenço é um dos signatários de documento apresentado na audiência pela FARGS com reivindicações do segmento, como a urgência em estabelecer ações para reduzir a mortalidade de abelhas, sugerindo a alocação de verbas para laboratórios aptos a realizarem análise de agrotóxico, de vírus, de solo, de água e da planta nos locais de ocorrência de contaminação. A esse respeito, o diretor do Parque Apícola de Taquari, Ademir Haettinger, propôs campanhas de divulgação de boas práticas para apicultura, meliponicultura e agricultura a fim de reduzir a mortalidade das abelhas. “Entendemos como possível mapear as áreas de aplicação de defensivos e estabelecer regras para a indústria dos produtos a respeito da orientação do modo de aplicação dos agroquímicos nos rótulos de herbicidas, fungicidas e outros contaminantes, responsabilizando a empresa fabricante em instituir métodos de treinamento durante  todo o processo, da venda  até a aplicação, constando nos rótulos os coquetéis de produtos que podem ser misturados na calda – ou a proibição dos coquetéis nesses produtos”, detalhou Haettinger.

 

O pesquisador da Embrapa Uva e Vinho de Bento Gonçalves, Régis dos Santos, destacou a importância de comunicação e parceria entre instituições e produtores. “A pesquisa e a produção precisam caminhar juntos. O desenvolvimento de tecnologias para o manejo adequado e para o crescimento da atividade dependem de diálogo entre os setores. São as demandas da cadeia produtiva que precisam direcionar o trabalho desenvolvido nas instituições”, avaliou.

 

Potencialidades da atividade

 

A profissionalização e a autonomia das propriedades foi defendida pelo professor de Apicultura de Maratá,  Gianmateu Schommer. “A gente precisa pensar fora da caixa, sair do pote de tampa amarela, agregar valor ao produto. A apicultura é negócio, não se restringe à criação de abelhas e coleta do mel. Pensar a apicultura como negócio e como ferramenta de polinização é o primeiro passo para ter nessa atividade a principal fonte de renda de uma propriedade, e não a fonte complementar, como acontece com a maioria hoje”, sustentou.

 

Representando o Laboratório de Apicultura da UFRGS (LABAPIS), Aroni Satler sublinhou a necessidade de cadastramento dos produtores e alertou sobre as questões ambientais da atualidade que colocam a apicultura no protagonismo da preservação da vida no planeta. “O crescimento da ação dos gases de aquecimento global acarreta, ao mesmo tempo, um desafio e uma oportunidade para a apicultura. O sequestro de carbono é uma ferramenta que nós temos por meio da atividade, que tem uma importância já reconhecida no equilíbrio ambiental e na sustentabilidade que temos buscado. Mas para avançar nesse plano, o cadastramento é essencial. Precisamos saber quem somos, onde estamos e como estamos produzindo, para construir formas de estabelecer esse projeto”, observou o professor.

 

A responsável técnica do Parque das Abelhas de Bento Gonçalves, Ingrid dos Santos, apresentou o trabalho desenvolvido no empreendimento comercial e turístico que será inaugurado nos próximos meses na serra gaúcha. A bióloga trouxe novidades sobre experiências com polinização em áreas frutícolas para o aumento da produtividade e também sobre o diferencial na qualidade dos frutos. “Envolver todos os setores – escolas, prefeitura, universidades e comércio – é fundamental para avançar no desenvolvimento. Setenta por cento de tudo o que nós consumimos vem da polinização das abelhas, o que demonstra o quão necessário é que estejamos atentos à valorização dessa atividade. O Brasil é o país com maior diversidade no que diz respeito à fauna e flora disponíveis para o pleno desenvolvimento da produção. O mel é ouro líquido”, sentenciou.

 

Presenças

 

O debate também contou com a presença dos representantes da Secretaria Estadual de Agricultura, André Menegat e Nadilson Roberto Ferreira; da assessora da subchefia parlamentar da Casa Civil, Mareli Vogel; da representante da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Isa CarlaOsterkamp; do auditor fiscal federal agropecuário Carlos Eugênio Vidal, da Unidade Técnica de Santa Maria; das prefeitas de Pinhal, Marcia Tedesco, e deMaratá, Gisele Schneider; do vice-prefeito de Cambará do Sul; Antonio Arigoni; da representante do SENAR do Vale do Caí, Maria de Lima Knap; dopresidente da Federação de Meliponicultura do Rio Grande do Sul (FEMERS), NelsonAgnes; do representante da ASCAR/EMATER-RS, João Alfredo Sampaio; do presidente da Associação de Apicultores e Meliponicultores de NovaPetrópolis, Francelino Santos; do representante da Cooperativa do Mel de SãoGabriel, Rogério Dallo; do apicultor de Carazinho Cesar de Souza, idealizadordo Encontro de Abelheiros; dda vice-reitora da FURG, Nádia Bucco; dopresidente da Associação Cambaraense de Apicultura, Gustavo Pereira; apicultores,meliponicultores, representantes de entidades, de instituições e municípios. 


Composição

 

São titulares da comissão os deputados Sergio Peres (Republicanos), que preside o colegiado; o vice-presidente Elton Weber (PSB); o relator Cláudio Tatsch (PL); Airton Artus (PDT); Airton Lima (Podemos); Dr. Thiago Duarte (União Brasil); Elizandro Sabino (PTB); Frederico Antunes (PP); Gaúcho da Geral (PSD); Issur Koch (PP); Professor Bonatto (PSDB) e Zé Nunes (PT).


Fonte: Jorn. Karine Bertani MTE 9427 | Foto: Raul Pereira

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.