quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Zero Hora

Conheça o partido que elegeu o senador e os deputados federal e estadual mais votados no RS

Republicanos, antigo PRB, é identificado com a direita, ligado a igrejas evangélicas e compõe a base do governo Bolsonaro

Hamilton Mourão (E), tenente-coronel Luciano Zucco (C) e Gustavo Victorino (D) foram eleitos pelo Republicanos

O que os deputados federal e estadual mais votados, além do senador eleito pelo Rio Grande do Sul no pleito deste ano têm em comum? Mais do que apenas o posicionamento político, o tenente-coronel Luciano Zucco, o advogado e jornalista Gustavo Victorino e o general Hamilton Mourão são do mesmo partido, o Republicanos.

Sob a bandeira do conservadorismo nos costumes e do liberalismo econômico, a sigla tem crescido a cada eleição. Além de ter os deputados mais votados no Estado, aumentou o número de parlamentares eleitos no RS e no Brasil — onde saltou de 30 deputados federais para 41 e de 42 deputados estaduais ou distritais para 72. Além disso, elegeu dois senadores (Damares Alves, no Distrito Federal, e Hamilton Mourão, no RS) e um governador (Wanderlei Barbosa, no Tocantins), tendo outro no segundo turno (Tarcísio de Freitas, em São Paulo).

— É um crescimento contínuo do partido. Somos conservadores, e no Rio Grande do Sul temos um campo fértil de pessoas que pensam como nós. Alcançamos os números que havíamos projetado, com três deputados federais e cinco estaduais. É um crescimento substancial, uma representatividade muito importante. Agora é transformar tudo isso em trabalho — avalia o presidente estadual do partido, o deputado federal reeleito Carlos Gomes.

Mas, não confunda: o Republicanos não é o antigo Partido da República (PR). Este mudou a denominação para Partido Liberal (PL), tendo como principal nome o presidente Jair Bolsonaro, que foi para o segundo turno na tentativa de reeleição, além do candidato ao governo gaúcho Onyx Lorenzoni. Apesar de ocuparem o mesmo lado na política brasileira, o Republicanos é o antigo Partido Republicano Brasileiro (PRB), que antes chegou a se chamar Partido Municipalista Renovador (PMR).

Registrado junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2005, passou pela primeira mudança de nome meses depois, acatando sugestão de seu presidente de honra, o ex-vice-presidente da República José Alencar. Mas, se alguém imagina que desde os primeiros dias o partido foi ligado à direita conservadora, engana-se. Em seu início, a sigla compunha a base do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, tanto que José Alencar foi vice-presidente na gestão do ex-presidente. Porém, com o passar dos anos, o partido se afastou do PT, com todos os seus parlamentares no Congresso votando a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

— A roupagem do Republicanos se reposicionou ao longo do tempo. Surge como um partido de centro-direita, sendo base do governo Lula, e vai mudando de tom, assumindo essa mudança política apoiado em três pautas que são valiosas no mercado eleitoral brasileiro hoje: os costumes, a segurança e o componente religioso. Não à toa elegeu militares e é um partido muito ligado à Igreja Universal — explica Fábio Hoffmann, cientista político e pesquisador da área.

O presidente estadual da sigla admite que a mudança feita em 2019, que alterou o nome do partido apenas para Republicanos, foi importante para consolidar esse reposicionamento. Contudo, Carlos Gomes ressalta que, mais do que a denominação, houve uma reestruturação programática e de estatuto do partido.

— O Republicanos definiu que precisava ter mais forte questões como o conservadorismo, a família como célula principal da sociedade, os valores e princípios que nós acreditamos para manter uma espinha dorsal moral, com dignidade e uma postura que possa ajudar em uma sociedade respeitosa, com mais segurança — destacou o deputado federal, que vai para o terceiro mandato em Brasília.

Porém, no que diz respeito à ligação com uma determinada igreja, o político garante que não há vinculação com uma ou outra vertente religiosa.

— Acreditamos em Deus como um pilar de desenvolvimento humano, mas não há proximidade do partido com uma igreja ou outra. Os indivíduos é que professam a sua fé. São coisas distintas. Temos pessoas católicas, da Assembleia, da Universal, da Quadrangular, que não frequenta lugar nenhum. Independentemente de templo, o importante é professar a sua fé — defende Carlos Gomes.


Mas, ainda que informalmente, a relação do Republicanos com as igrejas evangélicas, especialmente, é reconhecida. O próprio Carlos Gomes é pastor da Igreja Universal. A também deputada federal pela sigla, Franciane Bayer, é filha de um missionário e uma pastora. Os deputados estaduais Sergio Peres e Eliana Bayer também têm ligação com templos evangélicos. Este fenômeno, conforme Daniel de Mendonça, professor de ciência política da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), não é novo no Brasil:

— A presença das igrejas pentecostais na política brasileira vem desde 1980, mas se intensificou principalmente a partir de 2018. Esses partidos como o Republicanos têm uma capilaridade em igrejas evangélicas, mas esse fenômeno deve ser visto como um conservadorismo muito mais amplo. Não necessariamente o eleitor do Mourão ou dos deputados mais votados frequenta igrejas evangélicas. Mas são eleitores conservadores. É uma cruzada moral, em nome da família, e ocorre mundialmente. É o que chamamos de populismo de extrema-direita.

Para Hoffmann, essas pautas conservadoras ajudaram o Republicanos a ganhar "mercado eleitoral", como o pesquisador define. Mas, segundo ele, os votos no Brasil são personalistas. Ou seja, os eleitores votam na pessoa, muito mais do que no partido.

— As pessoas não confiam nos partidos aqui no país. Não se identificam, muito porque eles não têm uma agenda ideológica. A direita está tentando deixar clara essa ideologia mais conservadora, mas os eleitores ainda votam no candidato. Isso fica claro até porque pouca gente conhece o partido Republicanos. Confundem com o antigo PR, que agora é o PL — explica o cientista político.

Quando o presidente Jair Bolsonaro deixou o PSL, partido pelo qual se elegeu em 2018, o Republicanos foi cogitado como uma das possibilidades de migração. Porém, ele se filiou ao PL. O curioso é que, apesar de boa parte da família Bolsonaro ter seguido os passos do pai e ingressado no PL, um de seus filhos, Carlos, vereador no Rio de Janeiro, foi para o Republicanos. O que, na avaliação de Hoffmann, é uma forma de aglutinar os partidos dessa direita conservadora.

— Nada no xadrez político é por acaso. O Carlos Bolsonaro já passou por vários partidos. Essa mudança foi parte da jogada eleitoral, de trazer mais um partido que defende o tripé dos costumes, da segurança e da religião. Mas os políticos sabem que estão acima da questão partidária — destaca o pesquisador.

Não à toa, o Republicanos já manifestou posicionamento a favor da reeleição de Bolsonaro em âmbito nacional e apoio a Onyx Lorenzoni (PL) neste segundo turno para o governo gaúcho. É assim, aproveitando um eleitorado que passou a se identificar com as pautas de uma direita conservadora, que o partido foi um dos que mais cresceram no Estado e no país, tendo a sexta maior bancada da Câmara dos Deputados e a quarta na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

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