Uma visita técnica à Piscicultura Dalferth, em Fazenda Vila Nova, marcou a primeira atividade externa da Comissão Especial para tratar da Cadeia Produtiva da Piscicultura (CECAPIS) no RS, nesta segunda-feira (16). O presidente do órgão legislativo, deputado estadual Sergio Peres (Republicanos), conheceu o trabalho desenvolvido na propriedade voltada à comercialização de alevinos e conversou com os gestores sobre os principais desafios enfrentados e as alternativas para fomentar o setor.
Na área de 13 hectares – 8 deles em lâminas d’água, o carro-chefe é a tilápia, que tem expectativa de produção de 12 milhões de alevinos para a próxima safra. A empresa familiar de propriedade de Janaína Raquel Dalferth e do pai, Günter Gilberto Dalferth, também comercializa as carpas capim, prateada, húngara, colorida e cabeça-grande, além da piava, trairão, jundiá, pacu, surubim, lambari e dourado.
O analista de transferência de tecnologia da Embrapa Pesca e Aquicultura/Embrapa Clima Temperado, Daniel Webber, que participou da atividade, ressaltou o potencial de crescimento da produção da tilápia, que além de ser de fácil criação, é um peixe com filé sem espinhos, de sabor suave, que se adapta à culinária do mundo todo, o que dá a ele um fator comercial importante. “É a espécie de maior aceitação no mercado brasileiro na atualidade, sem contar o potencial para a exportação, o que impõe urgência na promoção de meios de fortalecer e expandir o setor”, observa Webber, que há 11 anos trabalha na instituição de pesquisa e transferência de tecnologia.
Por ser uma espécie doméstica, a tilápia permite colocar de 150 a 200 peixes por metros cúbicos em tanque-rede, pois se adapta facilmente aos ambientes, o que também é um dos diferenciais que garantem a sua presença em 140 países.
Janaína relata que a empresa conta com assistência técnica da Emater, mas aponta lacunas no que diz respeito ao diálogo das instituições com os produtores. “Gostaríamos de estabelecer parcerias com universidades e outros órgãos de pesquisa voltados à inovação, nós sentimos falta disso”, lamenta. A empresária também alerta para a insuficiência de iniciativas para o desenvolvimento da pesquisa genética em tilápia voltada à produção gaúcha, a exemplo do que já ocorre em outros estados. “Temos condições de produzir a nossa própria genética, e não buscar de fora”, defende a bióloga com pós-graduação em Piscicultura.
As regiões Sul e Sudeste estão entre os maiores compradores da Piscicultura Dalferth, que conta com dois laboratórios de reprodução, um em Fazenda Vila Nova, e outro na localidade de Linha Harmonia, município de Teutônia. De acordo com Günter, que fundou a empresa familiar em 1996, são raros os empreendimentos em operação com licença da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM), caso da Dalferth. “O cumprimento das exigências demanda custos às propriedades que seguem os ditames legais. Somado a isso, temos o alto preço da ração e a ação nociva dos atravessadores, que poderia ser inibida com a criação de cooperativas”, sugeriu.
Presente à visita técnica, o presidente da Câmara de Vereadores local, Paulo Delcio de Souza (Republicanos), saudou a iniciativa da CECAPIS. “Já passou da hora de o poder público olhar de frente os produtores, ir além dos gabinetes, ouvir o setor e construir políticas que vão ao encontro das suas necessidades”, reconheceu o parlamentar, que apresentou o fortalecimento da agroindústria na região e o incentivo ao associativismo para facilitar o controle de preço e de qualidade.
Segundo dados da Emater, o Estado produz mais de 50 mil toneladas de pescado de cultivo em açudes e tanques escavados. Estima-se que de 15 mil a 20 mil toneladas sejam comercializados anualmente, já que a piscicultura gaúcha é baseada no cultivo de carpas em sistemas extensivos, em ciclos de três a quatro anos. Esses números se encontram estagnados nas últimas décadas.
“Temos uma missão à frente no sentido de alavancar o crescimento do setor com a produção sustentável, criar condições favoráveis à exportação, formular políticas de capacitação dos trabalhadores, incentivar o associativismo e estabelecer comunicação entre as instituições e os produtores. A expansão e fortalecimento da piscicultura vai além de olhar para um setor da economia; é uma meta a ser alcançada também para garantir alimentação saudável e de qualidade à população”, avalia Sergio Peres, responsável por instalar o colegiado na Assembleia Legislativa.
Criada em julho deste ano, a Comissão Especial para tratar da Cadeia Produtiva da Piscicultura (CECAPIS) tem como vice-presidente Ruy Irigaray (PSL) e o deputado Zé Nunes (PT) como relator. Na próxima sexta-feira (20), o órgão inicia novo roteiro, com visita ao Laboratório de Estudos para Piscicultura e Aquicultura da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) – Campus de Palmeira das Missões; ao Laboratório de Estudos para Piscicultura e Aquicultura da Universidade de Passo Fundo (UPF); encerrando sábado na Agropecuária Santa Fé, município de Coxilha.
Fonte: Jorn. Karine Bertani - MTE 9427 | Assembleia Legislativa
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