Audiência
pública encerra atividades externas da CEFSIP
Sugestões
de autoridades, servidores e Igrejas serão levadas ao
Governo Estadual
O
papel das Igrejas na ressocialização da população carcerária e
no tratamento de dependentes químicos no Rio Grande do Sul foi tema
de audiência pública realizada nesta segunda-feira (10), em Porto
Alegre, na sede do Ministério Público Estadual.
O
debate foi coordenado pelo
deputado estadual Sergio Peres (PRB),
presidente do colegiado, e
contou com a participação de
parlamentares, autoridades policiais, representantes
do Poder Judiciário,
lideranças religiosas, OAB,
Defensoria Pública,
Poder Executivo
Estadual, Ministério Público, servidores da Segurança Pública e
voluntários de evangelização.
Os
ex-apenados Elton Conceição de Freitas e Lacir Moraes Ramos deram
depoimentos sobre a mudança de vida promovida pelo auxílio
espiritual que receberam no cárcere. “Quando
conheci o evangelho na prisão, eu comecei a ver que havia esperança
pra mim – eu sou um milagre. Fiquei 29 anos na prisão, hoje estudo
e trabalho. Eu acredito que eu sou prova viva de que não existe
bandido irrecuperável”,
relatou Ramos, que hoje é evangelista da Assembleia de Deus.
O
encontro encerrou
as atividades externas da Comissão Especial para tratar da Função
Social das Igrejas nos Presídios e nos Centros de Recuperação de
Drogadição no RS (CEFSIP), instalada
na Assembleia Legislativa com o intuito
de
facilitar e fortalecer a atuação dos voluntários nesses locais.
“É
um trabalho que não tem custos para o Estado, mas que precisa ser
fortalecido e ampliado. Há
dificuldades estruturais em alguns
presídios, que
demandam um olhar mais comprometido não
só para a assistência espiritual como também
para a promoção do
trabalho. A questão
prisional precisa envolver não só o governo, mas
as instituições em geral, a iniciativa privada e toda
a sociedade”, afirma
Peres.
Na
mesma direção,
o relator
da Comissão, Missionário
Volnei (PR),
lembrou a
dificuldade em atingir todos os apenados e
a importância do trabalho como complemento
à assistência religiosa.
“O apoio espiritual vem recuperando vidas, mas é preciso
fazer mais. Precisamos também diminuir as barreiras aos cursos profissionalizantes e à instalação de empresas dentro
dos presídios”, destacou.
Os
parlamentares percorreram as regiões do Estado verificando condições
de presídios e de centros de tratamento de dependência química a
fim de buscar soluções aos entraves estruturais e burocráticos
enfrentados pelos evangelizadores. As sugestões colhidas com
autoridades policiais, servidores dos estabelecimentos prisionais e
voluntários das Igrejas comporão relatório de trabalho a ser
aprovado em plenário até o mês que vem.
Durante
o debate no MPE, o Procurador de Justiça Gilmar Bortolotto apontou o
aumento da população carcerária como um dos obstáculos para a
implementação de programas de ressocialização. De acordo com ele,
em menos de 20 anos a população carcerária triplicou e o Estado
não conseguiu acompanhar a velocidade desse incremento. A situação
se agrava, em parte, pelo índice de retorno dos apenados às casas
prisionais, que hoje chega a 70%. “Isso faz com que o senso comum
diga que aquele sujeito não tem solução. Mas é preciso reconhecer
que a assistência religiosa tem se mostrado como um investimento
concreto em segurança pública. Mesmo o preso em pior condição sai
caro para o Estado, pois em liberdade trará dano material e também
prejuízo de vidas à sociedade”, alerta. Bortolotto também
contestou a tese de que o trabalho e o estudo, por si só,
ressocializam. “Aprender um ofício ou tornar-se uma pessoa mais
intelectualizada não tira o apenado do crime. O apoio espiritual se
faz necessário porque não há recuperação do ser humano enquanto
não houver revisão dos valores que conduzem suas ações. Com a
transformação de valores, ele vai mudar o comportamento consigo
mesmo e, a partir daí, vai construir uma nova relação com a
família e depois com a sociedade. E quem descobre o valor da própria
vida passa a valorizar, de igual forma, a vida do outro”, sustentou
o procurador, ao defender o acesso dos voluntários nas instituições
prisionais. “O que se propõe é proporcionar o ingresso dos
evangelizadores com um pouco mais de destemor, pois eles não
representam ameça, mas um reforço para a pacificação”.
A
vice-presidente da CEFSIP, Liziane Bayer (PSB), falou da sua
trajetória como evangelizadora e elogiou o trabalho da capelania. “É
preciso dar-nos conta de que o apenado é parte de nós, é parte da
sociedade. O presidiário é aquele que nenhuma cidade quer, que a
sua região não quer assumir. Mas as Igrejas têm muitos testemunhos
de pessoas que deram outro rumo para suas vidas por meio da fé, por
isso esse trabalho segue, e não vai parar”, proclama.
O
tenente-coronel da Brigada Militar Marcelo Gayer reconheceu o papel
dos evangelizadores na mudança de conduta dos apenados que recebem
auxílio espiritual e na diminuição do índice de reincidência no
crime nesta parcela de egressos do sistema prisional. “Consideramos
a assistência religiosa uma medida estratégica na diminuição da
reincidência. Os resultados, nesse sentido, têm nos mostrado que os
evangelizadores são pessoas que estão nas instituições para nos
ajudar e que, de certa forma, estão suprindo uma necessidade que o
Estado sozinho não consegue alcançar”, constata o diretor da
Cadeia Pública, antigo Presídio Central.
Bárbara
Lenzi levou a própria experiência como defensora pública para o
debate e abordou a atuação das Igrejas no contexto da
criminalidade. “Nosso trabalho é muito questionado, mas em cada
pessoa que eu defendo, eu vejo uma esperança. Há uma crise moral e
ética em toda a sociedade e, somado a isso, vemos crianças que já
nascem em situação precária e que nem sempre entram no caminho do
crime por escolha própria. Eu vejo a Igreja como o amor capaz de
mudar as pessoas, de transformar a vida de cada criança, de cada ser
humano. É isso que a sociedade precisa hoje”, avalia.
A
presidente do Conselho da Comunidade de Porto Alegre, Simone Zanella,
lembrou a urgência de olhar para os apenados que estão em
liberdade condicional. “A justiça, as religiões, o Poder Público
– todos os cidadãos são responsáveis por possibilitar o retorno
desse sujeito que está voltando, e que se encontra no limbo da
sociedade. É preciso lembrar, também, que o preso não paga só a
pena de privação de liberdade prevista em sua sentença. A
humilhação, o sofrimento da família, o adoecimento psíquico seu e
da família não estão na sua sentença, mas estão na pena”,
lembrou. Há 24 anos estudando o sistema prisional, a coordenadora do
programa “Voltar a Confiar” também apresentou proposta do
Conselho da Comunidade para que o Departamento de Tratamento Penal
da Susepe tenha uma referência dentro da instituição para
planejar,
coordenar, orientar e supervisionar políticas e ações
de assistência espiritual nas casas prisionais.
O
coordenador estadual de Evangelização Carcerária da Igreja
Universal, Jeferson Mesquita da Silva, contou sobre a sua própria
recuperação pela fé e apresentou o trabalho realizado pelo
programa social que reúne hoje 900 voluntários no Rio Grande do
Sul. “O evangelho mudou a minha vida e hoje eu trabalho para que
ele mude a vida de outras pessoas”, declarou. O pastor falou sobre
a experiência do último final de semana, quando 1500 crianças
participaram das celebrações de Páscoa na Cadeia Pública e
na Penitenciária Estadual Jacuí. “Se, de um lado, há pessoas
dispostas a doar suas vidas pela ressocialização de um irmão,
existe também o esforço e sensibilidade da administração do
presídio, não só em abrir as portas, mas em acreditar e criar
condições para que esse trabalho seja feito. Não haveria êxito
nessas campanhas se não houvesse a soma de forças”, concluiu.
Presenças
Também participaram da audiência pública o delegado da 1ª Delegacia Penitenciária Regional (DPR), Sandro Oliveira; o delegado da 2ª DPR Anderson Prochnow; a representante da OAB/RS, Martina Moraes Rodrigues; o delegado da 1ª DPR, Lauro Priebe; o representante da Sociedade Bíblica do Brasil, Ricardo Oliveira; os delegados da 9ª DPR Ben Hur Oliveira Goulart e Ricardo Cassal; a diretora da Susepe Mara Nadir Borba Minotto; o diretor administrativo da Penitenciária Modulada de Osório, Adilson Rich; o delegado da 4ª DPR Rosálvaro Portella; o diretor da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (PASC), Eduardo Saliba; o delegado da 8ª DPR Bruno Carlos Pereira; a coordenadora técnica da 7ª DPR, Joseana Alves; o capelão Capitão Gilvani Silveira, presidente da Interchap-Global Unidade Brasil, além de pastores e voluntários de instituições religiosas diversas.
Presenças
Também participaram da audiência pública o delegado da 1ª Delegacia Penitenciária Regional (DPR), Sandro Oliveira; o delegado da 2ª DPR Anderson Prochnow; a representante da OAB/RS, Martina Moraes Rodrigues; o delegado da 1ª DPR, Lauro Priebe; o representante da Sociedade Bíblica do Brasil, Ricardo Oliveira; os delegados da 9ª DPR Ben Hur Oliveira Goulart e Ricardo Cassal; a diretora da Susepe Mara Nadir Borba Minotto; o diretor administrativo da Penitenciária Modulada de Osório, Adilson Rich; o delegado da 4ª DPR Rosálvaro Portella; o diretor da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (PASC), Eduardo Saliba; o delegado da 8ª DPR Bruno Carlos Pereira; a coordenadora técnica da 7ª DPR, Joseana Alves; o capelão Capitão Gilvani Silveira, presidente da Interchap-Global Unidade Brasil, além de pastores e voluntários de instituições religiosas diversas.
Visitas
aos presídios
Foram
realizadas visitas técnicas à Cadeia Pública (antigo Presídio
Central); à Penitenciária Modulada de Ijuí; ao Centro de
Tratamento de Dependência Química Novos Horizontes, em São
Leopoldo; à Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba; aos
presídios regionais de Santa Maria, Caxias do Sul e Santa Cruz do
Sul, além da Penitenciária Estadual de Canoas.
Jorn. Karine Bertani MTE 9427 | Assembleia Legislativa/RS
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