Comissão de Piscicultura faz visita técnica
à Estação Marinha de Aquacultura da FURG
EMA se consolida como uma das maiores estruturas na área no país entre instituições de pesquisa
O deputado Sergio Peres (Republicanos) esteve nesta sexta-feira (24) na Estação Marinha de Aquacultura (EMA) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), na Praia do Cassino, em visita técnica da Comissão Especial para tratar da Cadeia Produtiva da Piscicultura (CECAPI/RS). O presidente do colegiado conheceu a estrutura do local e o trabalho desenvolvido em ensino, pesquisa, extensão e prestação de serviços em aquicultura pela instituição, que é referência internacional no estudo do sistema de bioflocos para a carcinicultura – a produção de camarões.
Estrutura
O parlamentar foi recebido pelos professores Wilson Wasielesky, Luís Henrique Poersch, Geraldo Kipper Fóes, Dariano Krummenauer, Ricardo Rodrigues, Luís André Sampaio e pela pós-doc em Aquicultura Lucélia Borges, que apresentaram as instalações do Setor de Biotecnologia e Produção de Alimento Vivo; Setor de Nutrição de Organismos Aquáticos; Setor de Moluscos; Setor de Patologia e Imunologia; Setor de Halófitas e Macroalgas; Setor de Avaliação de Impactos da Aquicultura; Setor de Camarão (estrutura própria para maturação, desova, larvicultura e berçário, com viveiros de cultivo, cercados e estufas), além do Setor de Peixes, que desenvolve atividades e estudos com viveiros para reprodução, larvicultura e berçário.
Disposta em 9 hectares – 1,5 deles em viveiros de cultivo, a EMA também conta com 5 estufas, 3 salas de aula, auditório, biblioteca e 9 laboratórios. Valorizado na região, o linguado é o peixe de criação mais tradicional do Laboratório de Piscicultura Estuarina e Marinha (LAPEM), e a miragaia a espécie mais recente.
Reconhecimento além-mar
Inaugurada em 1989, a EMA foi idealizada para promover o repovoamento de espécies nativas na Lagoa dos Patos. No decorrer de mais de três décadas, expandiu sua atuação, servindo aos cursos de graduação em Oceanologia e Biologia da FURG, cursos teóricos e práticos de extensão universitária, além da pós-graduação em Aquicultura, com procura de todas as regiões do Brasil e de outros países. Inspirada nos modelos do Texas e Carolina do Sul, a Estação se consolida como uma das maiores e mais completas estruturas na área no país entre instituições de pesquisa, desenvolvendo programas próprios ou em parceria com organizações públicas e iniciativa privada, em âmbito nacional e internacional.
A pesquisa voltada ao desenvolvimento de tecnologias para a produção de peixes, camarões, moluscos e plantas em sistema integrado (conhecido como sistema multitrófico) é um dos destaques da EMA. “A geração desse recurso permite ao aquicultor diversificar a sua produção, atendendo o mercado consumidor com mais alternativas de produto. Toda a pesquisa desenvolvida aqui tem esse viés de integração, e cada iniciativa nossa é sempre uma resposta a uma demanda trazida pelo produtor”, observa o professor Poersch.
Repovoamento de miragaias
Com vistas a conter o declínio populacional de um dos peixes típicos dos estuários da Região Sul do Estado, o Projeto Miragaia consiste na criação da espécie em cativeiro na EMA para reinserção no mar e na Lagoa dos Patos. “Assegurar a diversidade é fundamental não só para o pleno funcionamento dos ecossistemas, como também para garantir a sobrevivência da pesca”, sustenta o professor Luís André Sampaio, coordenador do LAPEM. O projeto foi oficialmente lançado em 2019, mas resulta de décadas de monitoramento do peixe na região. De acordo com Sampaio, nos anos 1970 eram capturadas em média 2 mil toneladas/ano da espécie. Ao final dos anos 1990, a miragaia desapareceu das redes de pescadores, que hoje conhecem e apoiam as ações de repovoamento do LAPEM.
Excelência em Pós-Graduação
O Programa de Pós-Graduação em Aquicultura (PPGAq) oferece cursos de Mestrado e Doutorado, com conceito 6 obtido na última avaliação da CAPES (o mais alto é 7). A infraestrutura disponível aos pesquisadores permite a realização de estudos com desenvolvimento tecnológico, interdisciplinaridade e, em muitos casos, aliados ao setor produtivo, abrindo oportunidades diversas aos egressos no mercado de trabalho, no universo acadêmico e empresarial, tanto em âmbito nacional como internacional. Com esses diferenciais, o PPGAq fornece subsídios e colabora com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela ONU, se enquadrando diretamente em, pelo menos, 7 dos 17 ODS, em especial o ODS 2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável, e o ODS 14 – Vida na Água. (Fonte: PPGAq FURG)
Corte de recursos é um dos principais entraves à pesquisa
Entre as circunstâncias que desafiam o desenvolvimento das atividades da EMA, foi apontada a interrupção gradual do aporte financeiro às universidades como um dos fatores de cerceamento da produção científica. “Enfrentamos uma diminuição de 60% dos recursos que eram aplicados 6 anos atrás. No entanto, a sociedade segue nos demandando e o amparo ao produtor só pode ser efetivado a partir de conhecimento produzido em experiências de pesquisa”, alerta Poersch.
O professor do Instituto de Oceanografia da FURG relatou que os cortes têm afetado a própria manutenção das instalações da EMA, e mencionou como exemplo a dificuldade em recuperar a estrutura das duas estufas danificadas em recente vendaval. “Da verba total, contávamos com 30% oriundos da iniciativa privada, e outros 70% alocados pelo governo. Hoje essa proporção está invertida, não por aumento de interesse da iniciativa privada, mas pelo corte de investimento público”, lamenta. Poersh menciona o projeto de repovoamento de camarões que a EMA realiza no Rio de Janeiro para a empresa Vale, ao passo que, aqui no Rio Grande do Sul, esse trabalho que resume a missão inicial da EMA foi suspenso.
Os pesquisadores também alertam para a necessidade de um olhar sensível do poder público à realidade do pequeno e do médio produtor. “O linguado responde bem ao sistema de recirculação de água, que é um recurso de menor impacto ambiental e economicamente rentável. Mas ainda tem um custo alto ao pequeno produtor, que carece de ações afirmativas dos governos para desenvolver o cultivo de espécies”, avalia o professor Sampaio.
Das medidas administrativas que poderiam alavancar o desenvolvimento da aquacultura, os docentes sugerem a especificação, nos editais públicos, de projetos voltados à área, evitando a pulverização de recursos ocasionada por seleções generalistas. Também solicitam que se examine a possibilidade de criação de políticas de incentivo fiscal para a iniciativa privada a projetos voltados à aquicultura, a exemplo de fundos de fomento já existentes para outros setores no Brasil. “É uma política de investimento em produção que já alcançou êxito em outros países. Quando falamos em impulsionar a aquicultura, estamos nos referindo, também, à promoção da saúde pública, da sustentabilidade e do desenvolvimento social”, defende Sampaio.
O relatório final dos trabalhos da Comissão de Piscicultura deverá ser apresentado e votado na primeira quinzena de novembro, com encaminhamentos ao Governo do Estado. “A produção da FURG tem reconhecimento lá fora e interação harmônica e integral com a região por esforço da comunidade acadêmica, mas a mão do poder público ainda pesa sobre produtores e instituições. O compromisso da instituição com o ecossistema e com o desenvolvimento regional sustentável precisa encontrar acolhimento dos governos e diálogo para promover a cadeia produtiva”, pondera Sergio Peres.
Avaliação da Embrapa
O analista de transferência de tecnologia da Embrapa, Daniel Webber, participa das visitas técnicas às instituições universitárias a fim de verificar as infraestruturas, iniciativas em pesquisa, serviços de extensão rural desempenhados e o potencial de realização de parcerias com a área de atuação da Embrapa (pesquisa e desenvolvimento – e transferência de tecnologia). “A FURG apresenta linhas de pesquisa alinhadas à agenda institucional da Embrapa, demonstrando a orientação a sistemas de produção sustentáveis que utilizam recirculação de água, de economia circular e orientados a facilitar o processo de licenciamento ambiental por parte dos produtores e empreendedores”.
Carcinicultura na Fazenda Fronteira Sul
Sergio Peres também conheceu as instalações e o trabalho desenvolvido na produção de camarões na Fazenda Fronteira Sul, localidade de Quitéria, a convite do professor do Programa de Pós-Graduação em Aquicultura da FURG, Geraldo Kipper Fóes. Em operação há aproximadamente um ano na localidade de Quitéria, o estabelecimento conta com 8 hectares, 5 deles em lâminas d água. Também participou das visitas técnicas o vereador de Rio Grande Paulo Roldão (Republicanos).
A Comissão
Criada em julho deste ano, a CECAPI tem como vice-presidente Ruy Irigaray (PSL) e o deputado Zé Nunes (PT) como relator. Também integram o colegiado os deputados Elton Weber (PSB), Clair Kuhn (MDB), Fernando Marroni (PT), Ernani Polo (PP), Aloísio Classmann (PTB), Faisal Karam (PSDB), Paparico Bachi (PL), Neri, o Carteiro (Solidariedade) e Gaúcho da Geral (PSD).
Programação
Em Porto Xavier, na próxima sexta-feira (1), às 10h, o presidente da Zimmermann Aqua Solutions, Sergio Zimmermann, ministrará palestra sobre o futuro da tilapicultura nas pequenas propriedades. Já o painel da tarde inicia às 14h com palestra do professor de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Rafael Lazzari, que abordará o tema Rações, Nutrientes e Manejo – Repercussões no custo de produção de peixes. As palestras serão seguidas de debate e toda a programação poderá ser acompanhada pelo canal da Assembleia Legislativa no Youtube.
Fonte: Karine Bertani | MTE 9427 | Assembleia Legislativa
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.