quarta-feira, 13 de março de 2024

CEAPIS consolida Taquari como polo de pesquisa em Apicultura e Citricultura na América Latina

 


Na condição de presidente da Comissão Especial de Apicultura e Meliponicultura da Assembleia Legislativa, o deputado Sergio Peres (Republicanos) esteve no município de Taquari nesta quarta-feira (13) em visita técnica ao Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa em Apicultura (CEAPIS) Emílio Schenk. O parlamentar foi recebido pelo presidente da instituição, Clovis Schenk Bavaresco; pelo diretor Ademir Haettinger e pelo presidente da Federação Apícola do Rio Grande do Sul (FARGS), David Emenegildo Vicenço, que apresentaram a estrutura do local e o trabalho desenvolvido pelo centro fundado em 1929 como Estação Experimental, nome pelo qual ainda é conhecida a maior referência em pesquisa em Apicultura e Citricultura da América Latina.

 

Ao todo, são 465 hectares na localidade de Linha Arroio Fonte Grande, zona rural do município, na área que também abrange o Parque Apícola, hoje unidade da FEPAGRO. Ao chegar, já é possível ver as edificações quase centenárias que testemunharam o trabalho de gerações de apicultores da região. As 11 casas foram construídas à época da fundação para abrigar administração central, Casa do Mel, laboratório de pesquisa genética de rainhas, almoxarifado, entre outras atividades assumidas pela instituição durante décadas de funcionamento da Estação Experimental. Hoje estão ativos os laboratórios de apicultura e o de citrus, que recentemente inseriu o butiá no rol das pesquisas. A instituição é considerada o ventre dos estudos direcionados à produção de laranja de alta qualidade, seguindo a tradição iniciada em 1764, quando colonizadores trouxeram as primeiras sementes da fruta oriundas da Ilha dos Açores, iniciando o plantio nas margens férteis do Rio Taquari. “Essa vocação consolidou nosso País como responsável pela produção de 80% da venda internacional do suco da fruta, o Brasil hoje é o pai do suco de laranja no mundo”, constata Haettinger.

 

A Estação é ponto de visitação e estudo para pesquisa acadêmica de universidades gaúchas, onde também mantém apiário e meliponário (colmeias de abelhas-sem-ferrão), com fornecimento de rainhas, extração de mel e promoção de cursos de capacitação em parceria com o SENAR. Desde o ano passado, um acordo de cooperação assinado entre o Governo do Estado, a Estação Experimental e a FARGS, tem integrado forças para promover no local o desenvolvimento de tecnologias da apicultura e meliponicultura para o Rio Grande do Sul. A parceria compreende o uso compartilhado de parte da área para o cultivo agrícola e a produção de abelhas, aliado ao desenvolvimento de pesquisas diretamente ligadas às demandas apresentadas por produtores de todas as regiões do Estado, como as ocorrências de mortandades de abelhas por contaminantes, além de estudos de polinização em lavouras de campo aberto com vistas ao aumento de produção. Nessa direção, Haettinger chama a atenção para o valor do trabalho executado pelas abelhas, reconhecido como essencial para o agronegócio.  “Mais de 90% das colmeias no Rio Grande do Sul estão em lavouras polinizando as nossas culturas agrícolas. A polinização é um bioinsumo para o aumento da produção”, argumentou.

 

O diretor informa que o meliponário conta com 65 caixas da espécie jataí, enquanto outras 110 caixas de matrizes inseminadas integram o apiário. E adianta que o CEAPIS deverá receber, por meio de parceria com o Apiário Bom Jesus, de Bossoroca, outras 108 caixas até o início do inverno, com rainhas selecionadas para atender a demanda em pesquisa genética. O centro localizado no Sul do Estado é referência internacional nessa área de conhecimento desde 1976. “Serão fornecidas aos produtores a genética e as matrizes de rainhas para multiplicação, que já estão em avaliação aqui. Os criadores contemplados com as rainhas também serão assistidos com cursos mensais para o manejo da espécie. São atividades que já foram iniciadas em janeiro deste ano aqui no Parque”, relatou.

 

 A apicultura no DNA

 


Foi na área do Parque Apícola de Taquari, onde pulsa o coração da apicultura da América Latina, que nasceu o veterinário Clovis Schenk Bavaresco. O produtor rural carrega o mel nas mãos, na memória – e no sangue também. Tem no DNA a vocação semeada pelo bisavô Emílio Schenk, técnico agrícola alemão que chegou ao Brasil em 1895 e foi o responsável pela implantação do método de criação racional de abelhas na região Sul. A missão foi seguida pelo avô Arthur Júlio Schenk, e também pelo pai, o engenheiro agrônomo Frederico Damião Arnt Bavaresco, que esteve à frente da direção da Estação. “Este lugar é a minha história, mas também é a história de trabalhadores da nossa região que dedicam suas vidas à apicultura”, disse emocionado, ao defender a urgência em se promover as melhorias necessárias para o aproveitamento pleno do Centro.

 

Não há como dissociar a jornada de Emílio Schenk da história da apicultura do Sul do País. O imigrante alemão faleceu em 1945, mas o legado do “Pai das Abelhas” segue presente nas atividades desenvolvidas acerca do tema pelo Brasil afora. O extensionista, que ministrava cursos e integrou o governo do Estado, hoje dá nome ao Centro do qual foi o fundador; é nome de escola municipal em Taquari e do auditório da Faculdade de Agronomia da UFRGS, onde foi o responsável técnico pela instalação do primeiro Apiário Didático do Instituto Borges de Medeiros. Também desenvolveu um modelo de colmeia batizada com seu nome, difundida entre os produtores na época em que administrava o Parque num escritório coberto com capim-santa-fé. O pioneirismo do Professor Schenk está gravado em todos os apontamentos sobre apicultura racional no Brasil. Aos aprendizes e pesquisadores, deixou como referência escrita o livro "O Apicultor Brasileiro", que chegou à sua 8ª edição no último ano de vida do autor.

 

Na propriedade de Bavaresco, localizada na Chácara Três Figueiras, ele mantém os registros da história da família e também da tradição apícola regional consolidada em mais de um século de trabalho. A casa, edificada antes da Guerra do Paraguai, abriga fotos da Estação Experimental, equipamentos, objetos e documentos que guardam a trajetória da apicultura do Rio Grande do Sul. A intenção do veterinário e dos gestores do CEAPIS e da FARGS é que esse material reunido por décadas possa integrar o acervo de um Museu da Apicultura dentro do Parque Apícola, a fim de valorizar e preservar a memória da cadeia produtiva do mel, estimular o potencial turístico da atividade, impulsionar a comercialização do produto e seus derivados, servir de fonte de pesquisa histórica e fortalecer as ações de educação ambiental entre crianças e jovens, que já têm acesso ao meliponário na área da Estação Experimental. 

 

Desafios e potencialidades

 


Já foi confirmada a alocação de R$ 250 mil em recursos oriundos de emenda do Senado Federal ao Orçamento da União de 2024 destinados à aquisição de equipamentos para a extração do mel, processamento e envase, mas a instalação do entreposto dentro da Estação requer obras de adequação do espaço, principalmente reforma da rede hidráulica. “A nossa luta é para termos essa estrutura para produzir dentro dos padrões, conseguir um rótulo do produto para ser legalmente vendido em feiras e no comércio em geral”, projeta o presidente da Associação Taquariense de Apicultura (ATAPIS), Gilvan Fazenda Dutra. O estabelecimento da agroindústria beneficiaria, inicialmente, pelo menos 48 famílias de produtores vinculados à entidade. O presidente da FARGS, David Vicenço, tem a convicção de que, a curto prazo, o empreendimento também deverá atrair produtores rurais interessados em ingressar no ramo. “Somado a isso, entendemos que a criação de oportunidades no setor se mostra essencial para o estímulo à permanência dos jovens no campo”, sustenta.

 

“A conquista da certificação do Serviço de Inspeção Federal (SIF) é uma condição necessária para a profissionalização da atividade e vai representar um marco para o fortalecimento de toda a cadeia produtiva aqui na região”, avalia o presidente Bavaresco. Ele também sublinha a importância de promover a revitalização do Parque a partir da restauração das edificações históricas, que ainda ostentam sua estrutura original, inclusive dos telhados.

 

Para Vicenço, a caminhada para o atendimento das demandas poderia ser abreviada com a criação de um fundo especial de fomento do setor.  “Uma das alternativas é a destinação de parte do valor oriundo do pagamento de multas ambientais para o investimento em políticas e ações voltadas à criação e preservação das abelhas” sugere o presidente da FARGS, ao destacar a vocação conservacionista da atividade, que é essencial para a polinização das culturas agrícolas – e o papel diferenciado do apicultor como agente de preservação ambiental.

 

Os pleitos e propostas apresentados durante a visita técnica constarão no relatório final da Comissão Especial de Apicultura e Meliponicultura, que deverá votar o parecer do relator na próxima terça-feira (19) na Assembleia Legislativa.

 

Composição

 

São titulares da comissão os deputados Sergio Peres (Republicanos), que preside o colegiado; o vice-presidente Elton Weber (PSB); o relator Cláudio Tatsch (PL); Frederico Antunes (PP); Issur Koch (PP); Professor Bonatto (PSDB); Dr. Thiago Duarte (União); Zé Nunes (PT); Airton Artus (PDT); Airton Lima (Podemos); Gaúcho da Geral (PSD) e Elizandro Sabino (PTB).


Fonte: Jorn. Karine Bertani MTE 9427 | Assembleia Legislativa RS

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.